O Gênio de Baker Street


É elementar, meu caro leitor, que todos já ouviram falar, ao menos uma vez, de Sherlock Holmes e Dr. Watson. O brilhante detetive vitoriano e seu assistente, criados por Sir Arthur Conan Doyle, que vivem em Londres e mantém um blog...
Isso mesmo, um blog.
Transportando de uma forma muito criativa o universo criado por Conan Doyle para o século XXI, a produtora britânica BBC, por meio dos já experientes Mark Gatiss e Steven Moffat, de Doctor Who, concilia perfeitamente o antigo e o moderno.


Em um formato mais parecido com uma série de filmes, onde cada episódio tem, em média, uma hora e meia de duração e aborda um dos livros ("Um Estudo em Vermelho" torna-se "Um Estudo em Rosa"; "The Adventure of the Empty House" inspira "The Empty Hearse", por exemplo).
São três temporadas, cada uma com três episódios, sendo a primeira lançada em 2010, a segunda, em 2012 e a terceira em 2014.


Moffat e Gatiss nos apresentam uma releitura atualizada dos clássicos personagens dos livros, como o Professor Moriarty, o Inspetor Lestrade e a enigmática Irene Adler.

Sherlock Holmes é vivido pelo ator britânico Benedict Cumberbatch (que mais recentemente deu vida a Stephen Hawking em A Teoria de Tudo, em uma produção impecável). Benedict literalmente encarna o personagem, recriando um Holmes cínico, detalhista e prodígio da investigação com um humor ácido que lembram vagamente Gregory House (do seriado House, cujo criador David Shore já admitiu que a personagem foi inspirada em Holmes de Conan Doyle).

John Watson não deixa a desejar também. O entrosamento entre Benedict e Martin Freeman, que dá vida ao médico, é gigantesco, trazendo em cena um tom de amizade e cumplicidade muito real. Aqui, Watson é um médico de guerra, veterano do Afeganistão que volta à Londres e precisa dividir um apartamento. É então que conhece Sherlock, passando então a ajudá-lo a resolver os crimes que a Scotland Yard não pode solucionar.


Na primeira temporada, a dupla soluciona três casos: em "A Study in Pink", uma repórter assassinada; uma invasão em um banco comercial cuja única pista é um grafite na parede em "The Blind Banker" e uma série de crimes que devem ser resolvidos em certo intervalo de tempo para que vítimas com coletes-bomba não sejam mortas ("The Great Game"). Nesta temporada somos introduzidos a Moriarty, o principal vilão da série.


Já a segunda temporada, Moriarty aparece mais. John e Sherlock conhecem Irene Adler, uma das poucas personagens páreas intelectualmente para Holmes. Um escândalo envolvendo membros da família real e chantagens precisa ser resolvido em "A Scandal in Belgravia". Depois, experiências genéticas e um assassinato que traumatizou uma criança são investigados em "The Hound of Baskerville". Em "The Reichenbach Fall" Moriarty acerta as contas de seu "problema final" com Sherlock.





"The Empty Hearse" abre a terceira temporada explicando as pontas deixadas por "The Reichenbach Fall", seguido por "The Sign of Three", onde há uma possível vítima de assassinato em um casamento. A série então termina a temporada com "His Last Vow", que introduz a personagem de Charles Augustus Magnussen, inspirada em Charles Augustus Milverton, um chantagista que ameaça membros do alto escalão político britânico e provoca a dupla de detetives da pior forma.


Nota no imdb: 9,3
Rotten Tomatoes:
1ª Temporada:
Nota 9,2 com 100% de aprovação dos críticos.
2ª Temporada:
Nota geral 9,5 e novamente 100% de aprovação
3ª Temporada:
Nota 8,6 com 97% de aprovação da crítica.

Veja
"Apresentando um texto ágil e bem estruturado, a série é uma divertida produção que traz como principal atrativo as soluções imaginadas pelos roteiristas para adaptar personagens, relações e situações para o Século XXI."

Patrícia Kogut - O Globo
"Se você viaja facilmente nas afiadas sequências de deduções do investigador, esta série é para você. Mas mesmo que seja um daqueles que duvida da infalibilidade dos métodos usados pelo detetive vai achar a produção um prato cheio: Sherlock agora é Sherlock “CSI” Holmes. "

O alto nível da série porém tem o seu revés: o longo hiato entre os lançamentos. A estréia da nova temporada está prevista para o início de 2016, precedida por um especial de Natal em 2015.





















Gentileza gera Gentileza


Esse é o tempo da correria. Da pressa, stress, vai-pra-lá e vai-pra-cá. E nessa euforia toda, ficam cada vez mais raras as pessoas educadas, gentis, simpáticas.
Andei reparando muito nisso ultimamente. É inevitável, no convívio social do dia-a-dia, não nos depararmos com pessoas extremamente mal educadas, que saem de casa com a cara amarrada e voltam do mesmo jeito. "Faz isso aí", "Fecha a janela"; passam por você, quase te derrubam com um empurrão e não se ouve ao menos um "desculpe".

E é nessas horas que a gente passa a reparar muito mais nas poucas excessões. Um dia desses, voltando da aula no ônibus, entrei com mochila, cadernos, dinheiro, celular e um livro (maravilhoso da Agatha Christie, seleção de melhores contos dos anos 50 com uma capa MUITO linda). Nisso, o cobrador (que também estava lendo Agatha Christie!), um senhor bem idoso já, se ofereceu para segurar meus livros enquanto eu passava pela catraca. E ainda disse depois "muito boa essa escritora; e os livros, são a melhor coisa do mundo que você pode comprar."

Fiquei impressionada. Tanto com a educação, simpatia quanto com o valor que esse senhor dava à leitura.
Infelizmente isso não é visto com muita frequência, ainda mais fora do âmbito acadêmico.

É maravilhoso em supermercados, lojas, filas, e encontrarmos sujeitos dispostos a tornar o dia de alguém um pouco mais alegre. Com "bons-dias", "obrigados" e "por-favores", totalmente gratuitos, a convivência fica muito mais agradável. Sem exagerar, posso dizer que é capaz de tornar um dia muito melhor.


Jane Eyre - Leitura Obrigatória para toda Mulher Moderna



"Jane Eyre" (1847) é o segundo livro das Brontë que leio. O primeiro foi "O Morro dos Ventos Uivantes", de Emily Brontë que, curiosamente, ocupava o posto de meu livro favorito, perdido então para a irmã Charlotte Brontë com a instigante história de Jane, uma mulher independente e livre que cativa ora pelo seu jeito único de ser e jamais submeter-se ao jugo masculino, ora pela intensidade com que vive as paixões, medos e angústias.

Sobre a Autora



Charlotte Brontë (21 de Abril de 1816 — 31 de Março de 1855) foi uma escritora e poeta inglesa, a mais velha das três irmãs Brontë que chegaram à idade adulta. Escreveu o seu romance mais conhecido, "Jane Eyre" com o pseudónimo Currer Bell.
O seu primeiro romance foi publicado já depois da sua morte, em 1857, bem como fragmentos do romance no qual Charlotte tinha trabalhado durante os seus anos de vida que foi também recentemente publicado por Clare Boylan com o título "Emma Brown: A Novel from the Unfinished Manuscript by Charlotte Brontë" e muito material sobre Agria nas decadas que se seguiram.

(Fonte: wikipedia.org)





Soneto XXXV



Não chores mais o erro cometido; 

Na fonte, há lodo; a rosa tem espinho;

O sol no eclipse é sol obscurecido;
Na flor também o inseto faz seu ninho;
                            Erram todos, eu mesmo errei já tanto,
                            Que te sobram razões de compensar
                            Com essas faltas minhas tudo quanto
                            Não terás tu somente a resgatar;
                           Os sentidos traíram-te, e meu senso
                           De parte adversa é mais teu defensor,
                           Se contra mim te excuso, e me convenço
                           Na batalha do ódio com o amor:
                           Vítima e cúmplice do criminoso,
                           Dou-me ao ladrão amado e amoroso.
                                                                              - William Shakespeare                                                               

Resenha | A Caça (Jagten - 2012)



Já é de tempos o conhecimento do poder de um boato. É capaz tanto de melhorar vidas como arruiná-las. E recentemente, como ocorrido no Guarujá, até mesmo acabar com elas. Foi o caso da dona de casa Fabiane Maria de Jesus, de 31 anos, que morreu após ser linchada por moradores de uma comunidade no litoral de São Paulo. Foi brutalmente agredida após ser acusada de sequestrar crianças, para a realização de ritos de magia negra, através do suposto reconhecimento de um retrato falado da verdadeira sequestradora veiculado em redes sociais.
Acontece que tudo indica que Fabiane era inocente.
E agora Inês é morta.

Casos como este foram ilustrados diversas vezes no cinema. Em 1961, William Wyler contou, em seu filme "Infâmia", a história de duas administradoras de um internato para meninas que, após um boato (que não procedia) espalhado por uma das alunas, são tachadas de lésbicas (reforçando a época em que o filme fora feito, tal acusação era terrível). Aos poucos, o colégio fica vazio pois as mães não aceitam que suas filhas sejam educadas por um casal homoafetivo. Nos papeis principais, Audrey Hepburn e Shirley MacLaine.






"As Bruxas de Salém", de Nicholas Hytner, também aborda o tema. E detalhe: é baseado em fatos reais. Em 1692, uma empregada realiza rituais de voodoo nos quais várias meninas da aldeia se envolvem, são descobertas e acusadas de bruxaria. Então o grupo começa a acusar diversas pessoas de envolvimento com feitiçaria, sendo executadas mais de 20 pessoas.

Assim também se desenvolve o longa "Dúvida" (2008). A fim de resolver diferenças com um padre em uma escola rígida do Bronx na década de 1960, a freira diretora do local começa uma cruzada moral contra este baseada em inúmeros boatos infundados.






Porém o exemplo que eu gostaria de tomar como comparação é o longa "A Caça" (Jagten - 2012) do dinamarquês Thomas Vinterberg. Estrelado pelo novo-astro Mads Mikkelsen (de Hannibal, O Amante da Rainha e Fúria de Titãs) o longa nos apresenta Lucas, recém divorciado e sofrendo pela perda da guarda do filho que trabalha em uma creche. Extremamente atensioso com as crianças, tem gosto em agradá-las e possui uma relação de amizade com as crianças. Uma delas é Klara, filha do melhor amigo de Lucas, Theo.

Acontece que Klara, de 8 anos, influenciada pelas brincadeiras de mau gosto do irmão mais velho, insinua para a responsável da creche que foi molestada por Lucas, que supostamente teria lhe mostrado suas partes íntimas. A partir daí, partindo do pressuposto da inocência infnatil e de que crianças não mentem, toda a cidade passa a declarar guerra contra Lucas, que é inocente, expulsando-o de estabelecimentos e até mesmo partindo para atos agressivos. 














É impossível assistir ao filme sem sentir-se terrivelmente incomodado. O desconforto é generalizado após certas cenas pois mesmo quando Klara tenta reparar seu erro todos recusam-se em acreditar nela. Preferem acreditar em um boato, ainda que não seja provado, do que numa possível verdade.
A crítica ao comodismo e senso de justiça deturpado da sociedade é tremenda, assim como mostra que um erro pode ser irreparável.

E numa realidade onde cidadãos agora amarram assaltantes em postes nus como forma de defesa fica a questão: deve a sociedade julgar e condenar por conta própria?
Como ilustrado por uma repórter inglesa Daisy Donavon, em reportagem sobre o conteúdo televisivo brasileiro, a violência é explorada como entretenimento (sim, refiro-me à Datena, Brasil Urgente, Linha Direta, caso Nardoni, caso Bernardo, caso isso caso aquilo) e exibida até a banalidade. Atos agressivos tornam-se comuns, banais, normais. 

Violência não é normal! Sensacionalismo sobre a mesma também não! 
Essas práticas impensadas de violência são reflexos de uma sociedade revoltada. Em todos os aspectos: desde a classe mais pobre, que cresce assistindo na televisão que só é feliz aquele com o carro do ano e dinheiro no banco, porém não consegue pagar o aluguel da sua casa no subúrbio; até a mais abastada, que indigna-se por pagar com trabalho seu carro de luxo e este ser tomado por marginais durante a ida para casa.

O fato é, a questão é bem mais delicada do que apontar culpados e inocentes. Quem estaria certo, o rapaz de classe média que ao ser assaltado age por conta própria já que a polícia é ineficiente ou o ladrão que rouba por ser marginalizado (deixado à margem)?

Acho que a maior metáfora, um resumo de praticamente todas as situações parecidas com esta é a cena final (e uma das mais significativas, atrás apenas do olhar profundo de Mikkelsen na igreja).
Após um certo tempo, uma falsa impressão de paz envolve Lucas, sua família e os moradores da cidade. Porém, certo dia, ao caçar, ele quase é assassinado por um tiro de rifle em meio à mata. Vira-se, procurando o autor do disparo, porém apenas um borrão é visível. Nenhum rosto.

E é isso que os pais de Klara, a cidade, os moradores do Guarujá, nós, somos. Atiradores sem rosto no meio da floresta.




Coloquei aqui a cena final, porém eu REALMENTE aconselho que não vejam apenas esta mas sim o filme todo. Vale muito a pena.
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